21 de set. de 2008

Agridoce

AGRIDOCE



INEXPLICA O PALADAR
INERENTE AO SABOR
ANTÍTESE DO TORPOR
DUALISMO DOS SENTIDOS
UMA ESPECÍE DE RELATIVISMO
ANTAGÔNICO DE FORMAÇÃO
SALGA: O MAR, CARNE E DOR
ADOÇA: A VIDA, ALEGRIA E AMOR
E SÃO AS PALAVRAS QUE ASCENDEM
E DESMORONAM OS SERES
HUMANOS

André Gustavo de Castro Mattos

19 de set. de 2008

Transgressão

ser
ser o não ser
que querem que seja
que querem que veja
Quem não vêem o que é

ser
ser o não ser
Que nega o que é
Que é o que nega
Por não ser o que é

ser
ser o não ser
o que ainda não existe
ainda que o ser resista
por desconhecer o que é

ser
ser o não ser
ainda seja
o ser que existe
mas que nega o que é

ser
ser o não ser
ainda que é o que não nega
mas resista ao que é

Hélio Rios

Marrom Sóbrio

2006, Quinta-Feira em verdade.

Enquanto a doce cabrita dangola tergiversa;
a penumbra concorre com o cigaro mas não evita o transtorno da tentativa trêmule
de retomar a arte do sorriso lírico tantas vezes ignorado quanto incompreendido.

O mesmo sorriso cínico pseudo infantil que oferece carinho enquanto admoesta a alma,
numa fogueira de sofismas, ditos sorrisos dúbios, não aquecem o coração,
mas conferem entropia às nossas intenções desprovidas de pré-objetivos.

Descarto toda essa necessidade tórrida pela razão libertadora;
pela pseudo razão libertadora,
descrita por razões pseudo libertadoras.

Descarto todo esse jogo mesquinho dos que discutem a discussão,
para por a prova seus dotes da contemporânea dialética de superfície,
infames monólogos movidos à carência esquizofrênica de quem aprova a tal:
'auto-estima-pseudo-cultural-socio-político-acadêmica'.

Carrego antes a Bandeira de Manoel;
Percebo simplicidade amorosa e matemática de tudo aquilo,
que uma vez definido como sistema,
nos envolve, nos engole, nos reforma, nos transforma,
nos informa, nos transtorna, nos deforma e nos conquista.

Desarmado, arquiteto apenas jogos de cumplicidade mútuo expositivas.
Apenas metáforas infantis e que de tão infames,
turvam a atmosfera de um marrom sóbrio que cintila.

Fernando Capeletto
fc@usp.br

14 de set. de 2008

Antônio, Sapato

Sou excluído só pelo fato
de que eu não tenho sapato
vivo na rua e lata eu cato
porque eu não tenho sapato
com o que cato faço meu prato
porque eu não tenho sapato
cercado de resto de lixo e ratos
porque eu não tenho sapato
no momento não tenho futuro exato
porque eu não tenho sapato
anjo mulher sonho abstrato
vê se me traz um sapato
desse sistema sou um retrato
de pé no chão sem sapato
dessa cidade sou carrapato
descalço sem sapato
te ameaço de assassinato
só pra roubar seu sapato
não me provoque ou eu te mato
e já não me importa o sapato.

Alan Christian

Simples X Complicado

Música pode ser simples
porque simples é a arte.
Simples também é a vida
Tão ao todo como em partes
Complicado é um conceito
complicado é o meu jeito
complicar é um defeito
pois o simples é reto e direto
mas o complicado existe
complicada é a ciência
o complicado persiste
essa é nossa tendência
simplicidade é amar
simplicidade é viver
complicado é explicar
o que é tão simples saber
complicação é uma máscara
que oculta a verdade
para que você não perceba
que a verdade é simplicidade.

Alan Christian

HOSPÍCIOS

Louco tá você que tá querendo me internar.
Cuidado!! Há perigo dormindo na calçada.
Eles podem te prender, te trancafiar.
Eles querem te calar com eletrochoques.
Não deixar você voltar pra essa vida cruel.
Não deixar você voltar pra esse mundo cão.
Louco é você que tá querendo me internar.

Praxedes Chinês
excomungados@zipmail.com.br

sag@black.br

Lampião Tiradentes Zumbi
99% ou mais esquartejados
4 Pretos daquele jeito
Derrube o feto
Sementes de poesia com asas
Lamento dos orixás
Borboletas vivem só 24 horas
Re-pousei pra pensar carta
por um fio de alforria
Samba não tinha esse nome
Brasil não existia porém a fome
era sobremesa posta sobre a mesa
Tendo lançado seu rosto
seu braço seu nome seu posto
sobreviveu a si mesmo o negro
Mais de 300 anos provam
que os deuses o amavam
Zumbe palavras em mil palmares
Calcanhares de Aquiles dos deuses deles
São Malês que vêm pra bem periafricanizar
a periferia – periafricania
Lá vem descendo o morro o malandro
Quilombo dos casais dançando
Samba já tinha carta na manga
Brasil já tinha capoeira mandingueira
até Getúlio ão proibiu o jogo do povo
Outros descansam as rimas as armas
Dedutivo Indutivo Dialético Ritmo
Dj introduz Bahia Rio SP grafite
Negro verdadeiro toca 2 pandeiros
sem pagar simpatia nem falso
sorriso branco

Claudio Laureatti
laureate@bol.com.br
www.saraudoquerô.blogspot.com

8 de set. de 2008

Fudeu, fiz uma rima.

Hoje acordei sem rima também
Acordei sem quase nada na cabeça
Toda essa história de bola e esmola
Tudo martelando na cuca
E nada de solução
Cada pessoa uma vida
Uma educação
Mas no final todos deitam no chão
Ixi, fiz uma rima, fudeu!

Leandro Bertola
leandro.bertola@ig.br

Apoético

Hoje não tem rima
bola com esmola
foda-se a métrica
final, prorrogação, e daí?
fundo, fundo do poço
lá, lá, lá, tigum
nadei no nada
acordei no tudo
tudo nada, é sonho
real sou eu
tempo, espaço
curvo

Guilherme Marin
guilherme.marin@gmail.com

7 de set. de 2008

Ela está no horizonte.
Me aproximo dois passos,
ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos
e o horizonte corre
dez passos para traz.

Por muito que eu caminhe
nunca a alcançarei.
Pra que serve a utopia?
Serve para isso, para caminhar.

Fernando Berri