Nego bom e nego ruim
Nego bom nego ruim,
Nego branco nego negro,
não faz nenhum mal pra mim,
que eu já não tenho emprego.
Em minhas mãos sinto fraqueza.
Nem seguro a vela acesa.
Já não tenho mais defesa
contra o time da “nobreza”.
Quero ouvir com mais clareza.
Quero ver pra ter certeza.
Sentir cheiro de franqueza
quando falar de pobreza.
Todo dia com certeza,
tem faisão naquela mesa
enquanto, ai deus, que tristeza
eu mato a velha e magra rês.
Pois o leite não sustenta
os meus filhos e um se atenta.
Vai correndo pro vizinho roubar milho pra polenta.
E a “nobreza” se lamenta.
Diz: “de tudo a gente tenta”.
E pra acabar com a morte lenta
inté esquadrões inventa.
Nunca soube o quê é perder.
Já nem sei mais o que é vencer.
De lutar na vou parar.
E aconselho o mesmo a vocês.
Já não tenho o punho forte,
já não bato o pé no chão .
Mas ainda não temo a morte, sul ou norte: fome ou pão...
Neste mundo o que mais falta,
Eu vos digo e digo alto:
é cultura, e das mais altas,
mesmo em ruas sem asfalto.
E a “nobreza” se lamenta.
Diz: “de tudo a gente tenta”.
E pra acabar com a morte lenta,
[veja]
Inté esquadrões inventa.
Chico Melo
17 de jan. de 2008
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